segunda-feira, 30 de maio de 2011

DAIMON

Um sábio disse-me, certa vez, quando eu estava em um momento de indecisão e com uma angústia inexplicável:- ainda és muito jovem, olhe o mundo de um ângulo de visão promissor, esperançoso, e seja um homem decidido a melhora-lo, cada vez mais; e lembre-se: tudo passa!

É Vero! Passam angústias, medos, ilusões e desilusões; sucessos e insucessos; enfim, como me disse o sábio, tudo passa; assim como passa o dia e a noite.

É por isso que tenho presente que um novo alvorecer carrega consigo uma gama de possibilidades; uma é infinitamente imutável: os dias e as noites serão sempre os mesmos, faça sol ou chuva! Mas, as indecisões; os erros; as ilusões e desilusões; os medos; as angústias e tudo que criamos através da insegurança de nossa mente não treinada, poderão ser modificados e transformados na possibilidade de melhorarmos o mundo, pois o mundo só é mundo porque estamos aqui. Ter isso consciente permite-nos expressar uma das maiores graças concedidas ao homem: sua liberdade. Portanto, livres, temos a opção de Ser ou estar no mundo.  E essa liberdade é inegociável.

Desde então caminha comigo esse sábio, que nunca mais me abandonou, verdadeiro daimon alojado em meu espírito.

O SEGUNDO SEXO

 


O 2º Sexo, livro em dois volumes de Simone de Beauvoir, completou 62 anos; desde 1949, quando foi lançado, nenhuma outra obra foi tão contundente e definitiva para as mulheres; quiça para os homens.

Simone de Beauvoir nunca foi a mulher de Sartre, como escrevem os jornalistas; e para entender o ser ou não ser do homem ou da mulher, somente com uma longa digressão filosófica, que não me proponho por agora. Entretanto, ler Simone é dever de todas as mulheres e, certamente, serão elas mulheres antes e depois da leitura de Simone. Por mais feminista e consciente que sejam, a leitura das obras de Simone despertará às mulheres para uma nova forma de ver a relação entre os sexos.

Quando lecionei na Universidade de Caxias do Sul organizei uma disciplina optativa sobre Simone de Beauvoir para alunos da graduação. Como era livre, minha audiência sempre foi muito boa, nunca menos do que 80 alunos. A UCS sempre foi uma universidade bem mais focada no que é ensino superior e isso possibilitava que juntamente com o curriculum das disciplinas obrigatórias tivessemos as eletivas, criadas pelos professores dentro das suas linhas de pesquisa. Simone de Beauvoir foi uma das minhas linhas de pesquisa livre, sem compromisso de apresentar teses doutorais, apenas pesquisei e estudei a tal ponto de me impor uma visita à Sorbonne e, claro, sentar-me no mesmo café em que ela e Sartre freqüentaram no Quartier Latin. Filosofia em mesa de bar...

Daquelas aulas na UCS lembro de uma aluna, assídua, esforçadíssima, inteligente e dedicada à leitura de Simone de Beauvoir: Quando viajei à Paris eu a deixei com minha disciplina durante dois semestres. Recém formada, e autorizada pelo Colegiado, deu conta do recado durante minha ausência.

Certamente ela não tera sido a mulher de "fulano ou sicrano", e isso já me conforta, pois o mundo do "macho" é tão caótico para as relações interpessoais que necessário se faz uma boa dose de Simone de Beauvoir.