O tema existencialismo não está
na "boca do povo" e por isso aborda-lo muitas vezes torna-se
enfadonho para àqueles que não estão familiarizados com a filosofia;
entretanto, é sempre bom comentar "en passant" fragmentos amenos,
próximo à popularidade.
Deparei-me hoje com uma cena já
normal nas grandes capitais: A sarjeta e o caos onde habitam humanos sem rumo,
sem norte, à margem do que se convencionou chamar de sociedade; vítimas de si
mesmo; entregues à ruína da exaustão existencial; presos à ilusão de drogas e à
necessidade da compaixão do outro. À beira do abismo!
Fiquei a pensar...
O que leva o indivíduo a
desgostar de si; a entregar-se ao nada; a debruçar-se sobre a lama e a
imundície desse lodo desumano que lhes esfacela o corpo, inutiliza sua alma e o
desliga do seu próprio Ser, desalojando-o do seu espírito?
Por que essa alienação da vida; o
corte do ínfimo fio que o ligaria a uma história comum de todos os humanos; à
opção insana pelo mais profundo e escuro oceano do vazio existencial?
Se nem mesmo esses humanos que
vagam pela escuridão da vida se revelam a si, certamente que mudos estarão a
qualquer desses questionamentos.
Mas a existência não é muda; a
filosofia não é muda; a razão não é muda; a reflexão não é muda; o mundo não é
mudo e a sociedade não deveria ser muda, embora se cale!
Não há desculpa para o culpado e o júri um dia
aplicará uma sentença, pois a Lei deve ser cumprida, aqui e acolá.
E qual a Lei que irá punir
àquele, àquela, e todos os culpados pelos zumbis que se acotovelam, se esbarram
entre si e entre outros, na escuridão de uma existência insana que lhes foi
imposta por um determinismo que não escolheu?
Quando nos deparamos com a
miséria insana de corpos que se vendem, que se alugam e que se dão, uns aos
outros, na podridão da alienação por fraqueza, ou por insanidade, escondendo-se
numa tragada de crack ou qualquer outra ilusão que lhes satisfaça o nada
existencial, perguntamos se não haverá dentre todos nós responsáveis pelo caos
que se instalou numa sociedade que se quer humana?
A cada passo dado, um aqui e
outro acolá, as vidas se instalam em ventres diversos e o mundo é alimentado
segundo a segundo com seres humanos que ao acaso habitam e desabitam um plano
existencial. Os olhos da sociedade ficam cegos a esse vai-e-vem e na imensidão
do tempo, que nos contempla, transitamos pela existência como se dela e nela
somente o acaso fosse a razão. Não nos perguntamos por que um ventre viciado,
alienado e jogado na sarjeta das drogas e do mundo é habitado por outro Ser que
o mesmo caminho seguirá. Somos solidários com a miséria humana e ainda temos
desculpas religiosas para o submundo social que à margem, e marginalizado,
sustenta o “status quo” dessa “divina comédia”.
É de se perguntar: Por que e para
que filhos do submundo?
Para que espíritos aqui venham
cumprir sua missão; mesmo que seja a de viver como zumbis?
Não mais me serve essa teologia
da necessidade espiritual; o que está a me parecer como desculpa para
excluir-se da responsabilidade de um mundo insano.
É por isso que fica dificílimo
ser um existencialista e ao mesmo tempo um Cristão. É preciso ter muita fé para
ser existencialista e olhar profundamente para esse mundo que aí está, e que
nele estamos, e apenas contempla-lo, deixando seguir seu curso como se nada
fosse de nossa responsabilidade, a não ser, eximir-se da culpa.
Vamos ao processo de alteridade:
Eu não queria ser como esse outro, mas colocando-me no lugar desse outro,
vejo-me inerte para gritar por socorro, embora esteja com a mão estendida para
que me tirem dessa lama.
Até quando?
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